Geral

Estrada rochosa


Concepção artística de asteroides troianos, asteroides que seguem a mesma órbita de Júpiter ao redor do Sol.

Rochas no espaço! Sim, sabemos que o espaço está cheio de rochas, mas até agora ninguém tinha planos de minerá-las por seus metais.

Por Sam Kean
A Terra não é um grande representante da tabela periódica. Noventa por cento de todos os átomos do universo são átomos de hidrogênio, o que obviamente não é verdade aqui. E há também uma distorção elementar mais sutil: vários metais de transição no meio da tabela periódica – platina, ouro, ródio, paládio, irídio, ósmio e outros – são bastante raros em todo o cosmos, mas são ainda mais raros na crosta terrestre. Esses elementos não se ligam bem ao carbono, oxigênio, enxofre e outros elementos formadores de rochas. Em vez disso, eles são siderófilos – amantes do ferro – e eles em sua maioria ficaram enfurnados no núcleo de ferro fundido da Terra a muito tempo. Os altos preços que esses elementos atingem – a platina vale US $ 20 mil por libra [0,45kg] – refletem sua raridade e refletem o fato de que estamos sempre em busca de mais.

Nós podemos ter encontrado. Por causa da devoção servil de metais siderófilos ao ferro, existe outra fonte lá fora – bem longe, dentro de asteroides ricos em ferro. Asteroides podem parecer tão inacessíveis quanto o núcleo da Terra, mas algumas novas empresas – apoiadas por bilionários da tecnologia e apoiadas pelo recente sucesso de voos espaciais privados – anunciaram planos de minerar asteroides e tomar a recompensa, especialmente a platina, de volta à Terra. Alguns asteroides têm concentrações de platina vinte vezes mais ricas do que minério extraído da Terra, o que poderia gerar um lucro de bilhões. Uma empresa calculou que mesmo um modesto asteroide (1.600 pés de largura [487 metros]) poderia liberar mais platina e alguns outros metais do que os seres humanos jamais exploraram na história.

(E – pssst – não conte aos investidores, mas mesmo no caso provável de que esse esquema fracasse, o resto de nós deve encorajá-lo, porque a tentativa de extrair asteroides seria um benefício imensurável para a ciência.)

Primeiro, a logística. Nos próximos dois anos, pelo menos uma dessas empresas de astromineração planeja lançar telescópios (por modestos US$ 10 milhões cada) para vasculhar os céus por candidatos promissores entre as dezenas de milhares de asteroides conhecidos em um raio de 30 milhões de quilômetros da Terra. “Promissor” aqui significa asteroides em órbitas fáceis de alcançar e ricos em platina. As empresas iriam, então, lançar sondas multiuso até esses candidatos para começarem a consumir o minério e realizar fundição. Os cruzadores espaciais presumivelmente se encontrariam com eles mais tarde e transportariam o minério para a Terra.

Alguns dos detalhes permanecem obscuros, no entanto. Uma questão é se devemos minerar e realizar fundição no espaço profundo, ou arrastar o asteroide de volta para a Terra primeiro (talvez com ímãs) e estacioná-lo em um “ponto de Lagrange”, onde o puxão gravitacional da Terra e da Lua os manteriam firmes. Também não sabemos se a fundição ou outros processos difeririam em gravidade zero. Assim, talvez as sondas precisem transmitir as análises químicas, permitindo que os cientistas encontrem rochas similares entre nossos estoques terrestres de meteoros e os lancem ao espaço para testes. Finalmente, os defensores do esquema parecem estar evitando uma lei básica da economia, que a escassez determina o preço. Inundar o mercado mundial com platina diminuiria os lucros.

Mas a beleza do empreendimento é que os investidores estão arriscando seu próprio dinheiro: o resto de nós arrisca zero e só pode se beneficiar. Como disse um escritor, “esse empreendimento de mineração de espaço será um sucesso espetacular ou um fracasso espetacular. De qualquer forma, a ênfase será no espetáculo”. E mesmo um fracasso completo de uma perspectiva empreendedora ainda pode levar a uma ciência espetacular.

Sondas humanas já pousaram em asteroides duas vezes, em 2001 e 2005. Uma espaçonave trouxe até amostras – mas apenas alguns grãos de poeira. Qualquer operação de mineração traria de volta ordens de magnitude a mais material, até mesmo como produtos residuais. Essa recompensa beneficiaria especialmente os geoquímicos: os asteroides formados ao mesmo tempo e da mesma poeira espacial que a Terra forneceriam informações valiosas sobre as matérias-primas desse processo. Os bioquímicos também poderiam examinar as rochas espaciais em busca de aminoácidos e outras substâncias químicas vitais para a vida.

Além do mais, muitos asteroides contêm cargas de gelo, e as empresas também estão considerando como desenvolver esse recurso. Analisando que o gelo poderia fornecer pistas sobre se os asteroides e cometas originalmente encheram nossos oceanos com água. Uma possibilidade ainda mais excitante seria não necessariamente trazer água para a Terra, mas aprender como explorá-la no espaço. Os astronautas poderiam beber a água ou dividi-la em oxigênio e hidrogênio, ambos potentes combustíveis de foguetes. Similarmente, poderíamos usar ferro asteroidal para construir espaçonaves já em órbita, reduzindo o custo de lançamento do poço de gravidade da Terra.

Quase por acidente, a corrida louca por ouro, prata e outras riquezas do Novo Mundo estimulou uma revolução científica e tecnológica alguns séculos atrás. A corrida por lucros no espaço profundo poderia estimular avanços similares (esperamos que desta vez sem toda a pilhagem colateral e morte). Se assim for, estudar as propriedades químicas dos asteroides – uma vez uma busca rara – poderia levar a humanidade para longe de sua calmaria pós-Apolo.

Sam Kean é autor dos best-sellers “O Duelo dos Neurocirurgiões” e “A Colher Que Desaparece“.

Este texto é uma tradução autorizada oficialmente – do original ‘Rocky Roads’ publicado na revista Distillations Magazine.

Traduzido por Prof. Dr. Luís Roberto Brudna Holzle, professor na Universidade Federal do Pampa – Bagé ( luisbrudna@gmail.com ).

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