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Lavando os olhos com mercúrio

Porque alguém iria querer lavar os olhos com mercúrio? O protagonista deste estranho acontecimento é Thomas Midgley Junior, talvez o químico mais odiado de todos os tempos, mas isto é uma outra história.

Tudo aconteceu por volta do ano de 1911, quando Midgley estava trabalhando na empresa Dayton Metal Product, e sofreu um acidente envolvendo uma válvula de um cilíndro de hidrogênio. Na ocasião o diafragma de segurança do cilindro rompeu explosivamente lançando farpas de metal no rosto de Midgley, vindo muitos destes pedaços a se alojar na córnea do olho direito.

O socorro médico conseguiu remover os pedaços maiores que estavam no olho, mas pequenos fragmentos permaneciam atrapalhando a visão, pelo temor do médico que a tentativa de remoção poderia causar danos irreversíveis à visão. E a situação estava cada vez mais incômoda para Thomas, não se concretizando a crença do médico de que os fragmentos iriam se deslocar por gravidade para uma região menos importante da visão, e a irritação na região do olho se intensificava junto com o aumento do desconforto no outro olho.

Cansado de sofrer, o químico Thomas Midgley resolveu tomar uma atitude drástica. Ele sabia, mesmo sem análise, que as farpas poderiam ser de uma liga contendo bismuto, estanho e chumbo. Desta forma percebeu que poderia remover o metal do olho com a formação de uma amálgama. Mas para formar esta amálgama ele teria que utilizar o mercúrio metálico em seu olho.

A missão iniciou com uma purificação do mercúrio pelo tratamento com ácido nítrico diluído, e posterior redestilação. Em seguida aplicando aos poucos mercúrio líquido durante duas semanas, ele conseguiu remover todas as farpas e recuperar totalmente sua visão.

Mas, e o mercúrio não é tóxico?

Sim, é tóxico. Quando na sua forma líquida e metálica, o elemento tem uma menor capacidade se infiltrar no corpo e o perigo potencial de intoxicação é um pouco menor, mas ainda existe.

A decisão de Thomas Midgley foi realmente um ato de desespero e não deve ser repetida.

FONTES:
https://blogs.nature.com/thescepticalchymist/2011/08/mercury_eyewash_anyone.html
https://dx.doi.org/10.1021/ie50117a017

Texto escrito por Prof. Dr. Luís Roberto Brudna Holzle luisholzle@unipampa.edu.br. Química (Licenciatura) – Universidade Federal do Pampa.