Um Exército Envelhecido

grupo de pessoas assistindo uma explosão nuclear
Observadores são iluminados por uma detonação atômica no Atol Enewetak durante a Operação Greenhouse em 1951. (Fonte: Corbis)

A Guerra Fria esvaeceu há muito tempo, assim como nossos medos de aniquilação nuclear global. Mas muitas armas nucleares permanecem. Daniel Gross analisa o que acontece quando algumas armas não podem ser aposentadas.

Em agosto de 1950, um comboio de aviões decolou de uma base militar da Califórnia, dois deles transportando os componentes de uma bomba nuclear. Um B-29 transportou o invólucro altamente explosivo da bomba; o outro carregava seu núcleo de urânio enriquecido. Juntos, esses componentes fariam uma bomba mais poderosa do que a que devastou Nagasaki em 1945. A bomba atravessou o Pacífico para um possível uso contra o exército comunista que invadiu a Coréia do Sul.

Comandando o transporte estava o general-de-brigada Robert F. Travis, que havia liderado dezenas de bombardeios audaciosos contra alvos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Travis levava uma vida mais tranquila agora que a guerra terminara. Ele estava bem adaptado a uma tarefa que, aparentemente, parecia corriqueira. Esperava-se que Travis transportasse com segurança a carcaça da bomba alguns milhares de quilômetros, certificando-se de que o pouso fosse tão suave e normal que mantivesse sua carga segura.

No momento em que o B-29 de Travis percorria a pista da Base Aérea do Exército de Fairfield-Suisun, era tarde no dia 5 de agosto, uma noite nublada e fresca no centro da Califórnia. Uma moradora da base se lembra de ter se sentado para jantar com o marido. Ela ouviu os motores zunindo no céu; um avião parecia estar perdendo altitude. Seu marido sentiu que algo não estava certo, e ele jogou-se no chão, puxando sua esposa para baixo com ele.

Durante a decolagem, uma das quatro hélices do avião estava com defeito. Uma vez no ar, o trem de pouso do avião não se retraía, e uma segunda hélice estava funcionando em uma potência parcial. Com o avião carregado de explosivos, um motor avariado, outro com problemas e as rodas presas, o terror deve ter tomado conta do cockpit.

A vida secreta do arsenal
Em 1950, as ameaças mais terríveis impostas pelas armas nucleares estavam começando a ficar claras. Um ano antes, a União Soviética detonou sua primeira bomba nuclear. Foi no início da Guerra Fria, e a superpotência estava embarcando em um impasse de décadas com os Estados Unidos – a era dos abrigos contra ataque nuclear e exercícios de abaixar e proteger-se. No final da década de 1960, os dois países teriam dezenas de milhares de armas nucleares, mais do que o suficiente para aniquilar a raça humana.

Outras ameaças eram menos evidentes para o público, no entanto, e o governo teve o cuidado de mantê-las assim. Na Base Aérea do Exército de Fairfield-Suisun, os moradores nunca foram informados de que os componentes de uma bomba nuclear estavam sendo retirados de seu quintal. Em outros lugares nos Estados Unidos, imensos laboratórios refinaram as tecnologias de armas nucleares longe dos olhos do público, enquanto os testes nucleares deixavam escapar resíduos pela atmosfera. O transporte de materiais radioativos para locais em todo o país – de minas de urânio a laboratórios e bases militares – significava que o programa nuclear dos EUA era um risco para quase todos. Um ato de sabotagem, um defeito no laboratório ou um acidente de avião poderiam ter ameaçado milhares de americanos sem que a União Soviética levantasse um dedo.

Seria fácil supor que quando a União Soviética se desfez há 25 anos, a maioria desses perigos sumisse. Alguns certamente desapareceram: não precisamos nos preocupar com esquemas militares como a “Operação Chrome Dome”, que na década de 1960 mantinha bombardeiros carregando armas nucleares nos Estados Unidos, prontos para retaliações instantâneas.

Mas os desafios de manter, transportar e salvaguardar as armas nucleares permanecem – e, de certa forma, essas tarefas só se tornaram mais difíceis. O arsenal nuclear americano está envelhecendo e os acordos internacionais impedem a construção de qualquer arma substituta. Como resultado, o estoque americano inclui milhares de armas antigas que não foram projetadas para durar, mas não podem ser legalmente detonadas para garantir que ainda funcionem.

A era da experimentação
Em agosto de 1950, o piloto do B-29 tentou guiar o avião de volta à pista, mas era quase impossível dirigir o avião. Reconhecendo a gravidade da situação, ele tentou pousar o avião o mais suavemente que pôde. Apenas alguns minutos após a decolagem, a tripulação preparou-se para um pouso forçado.

O avião atingiu o chão com força. Havia um caos no cockpit quando o avião capotou, capotou novamente e depois rasgou em dois. Um punhado de sobreviventes arrastou-se pela janela e, com a ajuda de funcionários de um prédio próximo, tentou arrastar seus companheiros com eles. Mas antes que todos pudessem ser libertados do avião, o deserto ecoou com uma explosão ouvida a 48 quilômetros de distância.

Fazia exatamente cinco anos que os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica em Hiroshima, matando dezenas de milhares de civis japoneses. Agora, os potentes explosivos dentro do invólucro de uma bomba nuclear haviam sido destruídos em solo americano. Mais da metade da tripulação do voo morreu naquela noite. Havia apenas um pequeno conforto: pelo menos o acidente envolvera potentes explosivos em vez do núcleo de urânio enriquecido da bomba. Se um avião diferente tivesse caído naquela noite, detritos radioativos poderiam ter sido espalhados pela base, com efeitos muito mais imprevisíveis.

O brigadeiro-general Travis estava entre os mortos. Ele sobreviveu aos ataques da Luftwaffe apenas para morrer em casa. O acidente que o matou destacou novos riscos – tanto para os soldados quanto para o público – criados pelos arsenais nucleares.

Alguns meses após o acidente de avião, outra explosão fez história, em Nevada. Em 27 de janeiro de 1951, uma bomba nuclear foi jogada de um avião em um leito de lago seco no recém designado Local de Testes em Nevada. Foi a primeira bomba nuclear lançada pelo ar detonada nos Estados Unidos. As pessoas relataram ter visto a explosão a 160 quilômetros de distância.

Mais de 80 armas nucleares foram detonadas em Nevada durante os próximos 12 anos. Esses testes salientaram o poder americano, mas também geraram oposição entre uma aliança eclética de ambientalistas, cientistas e países não alinhados. Seus protestos finalmente levaram à proibição dos testes na superfície em 1963. Abaixo do solo, no entanto, quase 1.000 armas nucleares foram detonadas em Nevada. Cientificamente, essas detonações serviram como uma etapa essencial no ciclo que incluiu prototipagem, montagem e refinamento. Testes criaram a ponte entre teoria e prática.

De acordo com Stephen Younger, um ex-designer de armas, os cientistas conseguiram reduzir o tamanho e melhorar a eficiência das armas nucleares apenas porque realizaram muitos testes. “Centenas de testes nucleares foram necessários para refinar o projeto”, ele escreve em seu livro The Bomb . Afinal de contas, os requisitos de projeto de uma bomba nuclear são absurdamente rigorosos: “Ela deve ter uma probabilidade quase perfeita de funcionar quando necessário e uma probabilidade de menos de um milhão de explodir acidentalmente no acidente mais grave”.

A praticidade dos testes foi clara para os líderes militares e políticos no contexto de uma corrida armamentista nuclear global. A abordagem científica básica – um loop de feedback de pesquisa no laboratório e testes em Nevada e em outros lugares – continuou até que a União Soviética entrou em colapso. Foi só então que as coisas mudaram.

registro de uma explosão atômica
A primeira detonação com armas nucleares, codinome Trinity, ocorreu no deserto do Novo México em 16 de julho de 1945. Esta fotografia mostra a explosão 0,025 segundos após a detonação. (Fonte: Departamento de Energia dos EUA)

O fim de uma era
Em setembro de 1992, menos de um ano após a dissolução da União Soviética, os cientistas detonaram uma bomba chamada Divider no local de testes de Nevada. Ela produziu o equivalente a apenas 20 quilotons de TNT – menos de 1% do poder explosivo de muitas bombas da classe megaton. Esse foi o último teste nuclear ocorrido nos Estados Unidos.

Apesar de terem respondido as principais questões de como fazer bombas, muitos cientistas em 1992 ainda sentiam que o teste era essencial. As armas nucleares eram tecnologias militares, mas também tinham usos científicos. Os químicos adquiriram uma nova compreensão do comportamento sutil dos elementos radioativos, e os físicos de partículas descobriram novas áreas de pesquisa que despertaram interesse em colisores em larga escala. Dois elementos, o férmio e o einstênio, foram descobertos graças a explosões nucleares, enquanto as preocupações com a contaminação nuclear estimularam a pesquisa sobre padrões climáticos globais.

Na década de 1980, no entanto, os testes nucleares tenderam a se concentrar em inovações de design menores, como a portabilidade. “Todos os principais segredos sobre armas nucleares foram descobertos há muito, muito tempo”, diz Stephen Schwartz, ex-editor e diretor-executivo do Bulletin of the Atomic Scientists, em uma entrevista recente. “Agora estamos apenas mexendo nas margens.”

Em outubro de 1992, o Congresso aprovou um projeto de lei que estabelecia uma moratória curta sobre armas nucleares. Foi concebido como um prelúdio para um acordo mais amplo, o Tratado Internacional de Proibição Completa de Testes. Agora que a Guerra Fria havia terminado, enormes estoques nucleares pareciam exagerados – talvez menos um dissuasivo do que uma fonte de conflito. Em poucos anos, com líderes russos e americanos negociando reduções de armas e uma proibição total de testes, parecia que o mundo havia chegado a uma nova normalidade. Nenhum dos países construiria ou testaria armas nucleares, e cada um reduziria seus estoques para alguns milhares de armas.

O desafio, claro, era administrar a transição para um mundo com menos armas. A partir de 1989, dezenas de milhares de armas estavam preparadas e prontas em silos de mísseis, bunkers e bases militares. Mesmo que alguns defensores exigissem a destruição de todas as armas nucleares, outros – como Colin Powell, então oficial militar de maior patente dos Estados Unidos – ainda às considerava as “jóias da coroa” do arsenal americano. O arsenal estoque estava em uma encruzilhada. Como disse o historiador nuclear Richard Rhodes, “o complexo de armas nucleares pode se reinventar ou desmoronar”.

As negociações armamentistas da década de 1990 foram um triunfo da diplomacia, mas deixaram grandes questões sem resposta: o que as duas superpotências poderiam fazer com suas antigas armas nucleares? Os arsenais existentes serviriam como um dissuasor contra países não nucleares que adquirissem armas nucleares? E por quanto tempo os estoques permaneceriam seguros e operáveis ​​se os cientistas não tivessem permissão para testar armas antigas ou construir novas armas?

A última pergunta provou ser a mais irritante. Os Estados Unidos gastaram muitos bilhões de dólares tentando respondê-la, mas o país ainda está lutando com seu estoque envelhecido.

O estoque nuclear atual
Pode parecer que manter um arsenal nuclear seria mais fácil do que projetar e testar novas armas. Mas na prática não é esse o caso. As armas mais poderosas do mundo não foram projetadas para a longevidade; em vez disso, elas foram projetadas para serem substituídas por tecnologias mais avançadas no futuro. “Presumimos que nenhuma arma permaneceria no estoque por mais de dez ou vinte anos”, escreveu Younger em The Bomb.

Uma arma nuclear mediana dos EUA tem agora 29 anos. Os cientistas referem-se à sua estratégia de manutenção como “administração de estoques”. No final dos anos 90, essa abordagem foi bastante fácil. “Tantas armas estavam sendo desmanteladas em resposta às negociações de armas entre os EUA e a Rússia que as armas restantes poderiam ser mantidas em partes desmontadas”, escreve Rhodes.

No entanto, os cientistas nucleares já estavam nervosos com a perspectiva de manter as armas perpetuamente. Siegfried Hecker, diretor do Laboratório Nacional de Los Alamos, quando a União Soviética entrou em colapso, disse a Rhodes que ele e seus colegas tinham conversas urgentes sobre como redesenhar o programa de armas nucleares. “Estamos sendo solicitados a assumir a responsabilidade do berço ao túmulo por um mecanismo incrivelmente complexo”, lembrou Hecker. “E à medida que essas armas envelhecem, elas mudam e agora temos que mantê-las sem testes”.

Atualmente, a estratégia dos EUA é gastar generosamente em manutenção, substituindo regularmente componentes de armas que envelhecem mal e monitorando cada classe de armas para resolver problemas emergentes. Apenas menos de 5.000 armas permanecem no arsenal. O estoque ativo é composto exclusivamente, ou quase exclusivamente, de armas termonucleares, também conhecidas como bombas de hidrogênio, a maioria das quais foi projetada nas décadas de 1970 e 1980. Elas custam entre US$ 20 bilhões e US$ 50 bilhões por ano para armazenar, proteger e manter, dependendo de quem está estimando. Isso é pelo menos três vezes o orçamento da National Science Foundation.

avião model b 29
Bombardeiros pesados ​​Boeing B-29 Superfortress, semelhante ao avião que Robert Travis voou. (Fonte: Força aérea dos Estados Unidos)

Uma tarefa crucial é a substituição de qualquer peça que corroa ou degrade, da fiação à carcaças de metal e materiais explosivos. Por exemplo, o poderoso explosivo que detona o núcleo nuclear de uma bomba contém um plastificante, que permite que o explosivo seja moldado para direcionar a energia da bomba. Com o tempo, o plastificante evapora, deixando para trás um resíduo frágil que se parece um pouco com o plástico antigo. Para evitar tais problemas, os cientistas testam componentes individuais na ausência do explosivo “empacotamento físico” de armas nucleares. “Há um processo de renovação em curso para todas as armas atualmente no estoque ativo”, diz Schwartz. “No final do processo, as armas estão funcionalmente novas.”

Mas a manutenção exige mais que a instalação de novas peças. Muitos contratados que uma vez construíram componentes nucleares saíram do mercado. Os cientistas muitas vezes precisam fazer peças de reposição do zero. Da mesma forma, certas ferramentas precisam ser customizadas para desmantelar as bombas com sucesso. Os cientistas nucleares originalmente não projetaram armas para serem desmontadas como móveis da Ikea. Eles projetaram para ter poder de fogo em massa e uma vida útil relativamente curta.

Há uma peça final no quebra-cabeça tecnológico: garantir que cada parte atualizada funcione em conjunto com as outras. Se você trocar quase todos os componentes de uma máquina antiga, como você sabe que vai funcionar? Os cientistas tentaram responder a essa pergunta estudando cada componente mais de perto do que durante a Guerra Fria, usando supercomputadores para desenvolver seus conhecimentos sobre cada processo. Embora os modelos digitais nunca reproduzam completamente os processos físicos, eles podem ser a melhor esperança para prever e lidar com a decadência de armas nucleares antigas.

Apenas um lugar nos Estados Unidos recondiciona e desmantela armas nucleares: a Planta Pantex, perto de Amarillo, no Texas. Mas muitos locais armazenam as armas. Algumas ogivas ainda são mantidas em cima de mísseis de cruzeiro em silos remotos, em um eco das práticas da Guerra Fria. Outras são simplesmente agrupadas atrás das portas blindadas do que parecem ser iglus cobertos de terra. Somente no caso de um grande conflito, essas armas seriam acopladas a um bombardeiro ou míssil.

Dado que existe apenas um local de desmontagem, o número relativamente alto de locais de armazenamento de armas tem uma consequência inquietante: as armas nucleares precisam ser constantemente transportadas pelo país para que aquelas que precisam de inspeções ou manutenção no Pantex possam circular para dentro e para fora do arsenal. . Elas são conduzidas em caminhões de 18 rodas sem marcação e fortemente blindados. Se os componentes de uma bomba nuclear passassem por você na estrada, você provavelmente não perceberia. Seria escoltado por agentes armados, mas o próprio veículo seria simplesmente parecido com um caminhão de carga.

Além de ser o lugar onde as ogivas renascem, Pantex é o local onde os núcleos nucleares vão morrer. É fácil pensar em desarmamento como a destruição permanente de armas nucleares – mas não é como se o material radioativo concentrado pudesse ser jogado fora como lixo doméstico. Milhares de núcleos de plutônio estão em um vasto depósito da Pantex. “Esses estão todos em recipientes especiais”, diz Schwartz. “Eles parecem pequenos tambores de óleo em gaiolas.”

Não podemos ter certeza de que nosso arsenal nuclear é totalmente funcional. “Há preocupações de que, se você começar a mexer demais, você remove a arma do que você sabe que funciona”, diz Schwartz. Mas os cientistas nucleares dos EUA permanecem bastante confiantes de que podem garantir a usabilidade do arsenal. É claro que isso só será verdade se o programa nuclear dos EUA continuar a consumir bilhões de dólares federais a cada ano para continuar funcionando.

O estoque de conhecimento
Manter armas nucleares não é apenas um problema tecnológico. É também um problema de habilidades. A ciência nuclear perdeu a respeitabilidade nas últimas décadas. Os pesquisadores gastam seu tempo tentando garantir que as armas não se quebrem. Eles não estão mais tentando resolver alguns dos maiores problemas em física e química. Talvez, como resultado, o moral desses cientistas tenha diminuído e a idade média tenha subido.

Alguns de seus espaços de trabalho físico também estão em mau estado. Em 2014, o Los Angeles Times informou que a planta Pantex estava infestada de ratos, e um teto de concreto havia desmoronado recentemente em um complexo que produz materiais nucleares no Tennessee. Para aspirantes a cientistas e engenheiros, essas questões refletem o declínio do estudo das armas nucleares como uma das principais disciplinas científicas.

Mark Pierson, que lidera o programa de engenharia nuclear no Instituto Politécnico da Virgínia, vê esse desafio influenciar seus alunos. Nos anos 50, vastas áreas de territórios inexplorados atraíram toda uma geração de físicos, químicos e engenheiros para a engenharia nuclear. Em contraste, os estudantes de Pierson não têm muito interesse em trabalhar com armas nucleares. “Não há muito design novo acontecendo”, diz ele. O trabalho com armas tende a se concentrar na confiabilidade e sustentabilidade – tópicos essenciais que infelizmente não são muito prestigiosos ou que pagam bem.

O próprio Pierson trabalhou com armas nucleares por décadas: ele serviu em submarinos nucleares no final da Guerra Fria. Ele não vê um futuro muito brilhante para o programa de armas nucleares. “Eu acho que com o passar das décadas, haverá menos e menos pessoas interessadas nessa área. Particularmente, quando reduzimos nosso estoque.” Assim, como o estoque continua a envelhecer fisicamente, os Estados Unidos também perderão seu estoque de conhecimento e experiência.

Uma Herança Explosiva
O moral também caiu entre os militares responsáveis ​​pelas armas nucleares do país – talvez um sinal de que os americanos vêem as armas nucleares de maneira muito diferente do que antigamente. Em agosto de 2007, 57 anos após o acidente de avião em Fairfield-Suisun, outro avião decolou carregando uma arma nuclear. Desta vez, não houve nenhum problema com o avião em si, um bombardeiro B-52 que voava da Base Aérea Minot de Dakota do Norte para a Base Aérea de Barksdale, na Louisiana. O problema era o colapso total das regulamentações sobre armas nucleares.

Barksdale é um dos poucos centros de poder nuclear aéreo do país. Vários anos atrás, o antigo designer de armas Stephen Younger visitou a base. “Fomos levados pela fila de aeronaves que, estacionadas de ponta a ponta pelas asas, estendiam-se por mais de um quilômetro, uma exibição estratégica visível pelos satélites espiões russos”, escreve ele. Há aviões regularmente carregados com mísseis inertes para executar missões que reproduzem as condições de uma guerra nuclear. “Não se pode imaginar uma demonstração mais vívida de que as armas nucleares ainda fazem parte da equação de defesa”.

O B-52 estava programado para chegar a Minot, pegar 12 mísseis de cruzeiro não-nucleares e transferi-los para Barksdale. Era um procedimento bem simples. Os pilotos deveriam confirmar que tinham os conjuntos certos de mísseis, carregá-los nas asas do avião e confirmar que sua carga estava segura e inerte.

silo do missil peacekeeper
Força Aérea dos EUA testam o lançamento de um míssil balístico intercontinental Peacekeeper, que agora já foi descontinuado. (Fonte: Wikimedia Commons)

Não funcionou assim. Em uma impressionante sequência de erros cometidos pelo pessoal da força aérea, os mísseis errados foram selecionados. Estranhamente, as armas nucleares eram armazenadas no mesmo lugar das armas falsas – e, apesar das regulamentações que exigiam numerosas verificações na carga útil do avião, seis armas nucleares ativas foram fixadas nas asas do avião. Naquele dia, eles voaram milhares de quilômetros pelo país e foram enviados até Barksdale sem a segurança necessária.

Durante 36 horas – antes, durante e depois do voo – ninguém notou. Nem uma única pessoa – nem o piloto, nem os comandantes em terra, nem o presidente dos Estados Unidos – sabia que havia armas nucleares a bordo. Em caso de uma emergência, o bombardeiro estava até autorizado a descartar sua carga (embora a detonação acidental fosse improvável). Se alguém tivesse tentado localizar as armas durante o voo, teriam descoberto que seis mísseis nucleares haviam simplesmente desaparecido do local de armazenamento. Somente depois do pouso a tripulação do comboio de Barksdale percebeu que mísseis nucleares armados estavam presos às asas do avião.

O caso talvez seja uma boa metáfora para o desaparecimento de armas nucleares dos olhos do público. Uma investigação sobre o incidente culpou a falta de moral entre os funcionários e as regulamentações severamente enfraquecidas quando se trata de lidar com armas nucleares desde o fim da Guerra Fria.

Armas nucleares não parecem criar o tipo de medo que elas já causaram. A geração de militares agora entrando no serviço nasceu após o término da Guerra Fria. Talvez seja por isso que se tornou raro ler sobre ogivas em manchetes. Mesmo que programas nucleares como o do Irã atraiam a atenção internacional, tendemos a esquecer as milhares de armas nucleares mantidas pela última superpotência do mundo. Essas armas podem ter perdido sua enorme influência na política global – mas certamente não perderam seus imensos perigos.

Seria preciso um esforço monumental para criar um mundo sem armas nucleares. Mesmo se decidirmos desmantelar todas as armas na Terra, algumas provavelmente não seriam contabilizadas – e o material nuclear concentrado ainda poderia ser usado para construir ogivas novamente. As armas nucleares tornaram-se parte da herança humana.

No entanto, isso não perdoa nossa falha em escolher uma estratégia coerente para o futuro. Neste momento nos sentamos no meio termo entre o desarmamento gradual e a preservação permanente de nossas armas nucleares. Os custos da manutenção de armas nucleares estão aumentando, e os benefícios de um estoque nuclear parecem estar encolhendo. Nós, como cidadãos, cientistas e formuladores de políticas, precisamos fazer uma escolha. Vinte e cinco anos após o fim do jogo de xadrez global que foi a Guerra Fria, é hora de acabar com o impasse.

Texto escrito por Daniel A. Gross.

Traduzido por Prof. Dr. Luís Roberto Brudna Holzle ( [email protected] ) do original ‘An Aging Army’ com autorização oficial dos detentores dos direitos. Revisado por: Kelly Vargas.

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